Domingo
Hoje é domingo e parece que tudo sabe disso. As paredes estão mais quietas, as coisas param no ar como se esperassem por algo, uma ligação, uma notificação, um convite para o café. Eu não espero, mas sinto. É como se o corpo amanhecesse sem pele e tudo tocasse, tudo ardesse. A luz bate na janela com uma delicadeza feroz. E eu me lembro de você. Não porque eu queira. Não por escolha. Mas porque é domingo, e domingo tem esse hábito antigo de abrir a gaveta onde guardei o que sobrou da gente. Tem algo de insuportável e bonito na saudade. Como se doer fosse uma forma de ainda estar vivo. Como se sentir a falta fosse o jeito mais humano de dizer: você existiu aqui, do meu lado, neste peito que ainda bate. Eu escuto o silêncio entre as coisas. O ruído do relógio, o tique-taque do tempo empurrando a vida para frente, mesmo quando eu ainda estou lá atrás, no instante exato em que disse adeus. O café esfria. A tarde cresce como um eco. E eu me dou conta de que sua ausência tem cheiro, não de ausência, mas de corpo, de pele morna, de riso que não volta. De tudo que não é mais e, mesmo assim, insiste. Não escrevo pra você voltar. Escrevo porque não sei mais o que fazer com essa presença tão cheia do seu vazio. Saudade é o nome que a alma dá quando não sabe mais se chora ou se espera.
E hoje... hoje é domingo.